terça-feira, 12 de junho de 2012

Comunicado na íntegra de Paulo Pereira Cristóvão


Este foi o comunicado lido por Paulo Pereira Cristóvão anunciando a sua demissão.

«Há precisamente dois meses fui constituído arguido no âmbito do inacreditável processo Cardinal. Nesse exato dia, suspendi funções de vice-presidente do Sporting, situação essa que se manteve durante algumas horas, até constatar a impossibilidade estatutária de tal figura.

Foi exatamente nesse sentido, e sem nunca perder de vista o interesse superior do clube, que impus a mim mesmo o exato timing de dois meses de forma a que pudesse concluir, ou pelo menos deixasse negociado ou encaminhado, um conjunto de obras e melhoramentos que tiveram o seu início por minha iniciativa, e atendendo a especiais condições negociais, teriam de ser concluídas por mim e por mais ninguém.

Essa situação era do conhecimento de um grupo restrito de pessoas, às quais, desde já, agradeço a descrição mantida durante esse período. As condições requeridas nos vários projetos têm somente a ver com condições que permitiram, em forma de permuta ou estabelecimento de parcerias, que o Sporting nada tivesse de despender, ou, quando despendeu, fossem valores considerados diminutos face ao valor das obras entretanto feitas.

Aos sportinguistas interessa antes de mais a obra, enquanto aos dirigentes cabe a responsabilidade de satisfazer os desejos da massa adepta, mas tendo sempre presente as dificuldades de tesouraria do nosso clube. Uma instituição como o Sporting, pela sua importância no contexto nacional e internacional, pela sua dimensão, e por ser inequivocamente a maior força desportiva nacional, exige sempre o máximo de respeito por parte de todos.

Infelizmente, nem sempre tem sido assim. Informação, contra informação, ruído, intriga, manipulação informativa, invejas pessoais e recalcamentos próprios de frustrados, tudo isto pude verificar de há dois meses a esta parte. Os sportinguistas saberão fazer a destrinça entre a manipulação e a verdade, especialmente quando a manipulação a que assistimos não teve outro objetivo senão esconder insuficiências próprias de algumas instituições e retirar o foco em personagens que, essas sim, deveriam ter sido alvo do mesmo tipo de investigação jornalística.

A minha inocência em tudo isto é algo que ninguém me pode tirar, pois estou de facto inocente e não hesito, seja onde for, e perante quem for, de reafirmá-la as vezes que forem necessárias. Mas a minha inocência, ou o meu bom nome, por mais importante que sejam, jamais poderão estar acima do Sporting. E, de facto, nunca estiveram.

Hoje estou aqui com a tranquilidade de quem deu tudo o que tinha e tudo fez pelo clube do seu coração. Tenho a convicta sensação do dever cumprido, com os meus projetos de curto e médio prazo encaminhados e entregues a pessoas que, seguramente, não os irão deixar morrer.

Tive a honra, nestes quinze meses, de deixar projetos e participar em soluções consideradas vitais, não só para o futuro do Sporting, mas também para a alma e orgulho sportinguistas. Esses sentimentos de realização pessoal jamais me serão tirados.

Como inicialmente vos disse, fui eu que escolhi o dia e a hora como timing para conclusão daquilo a que me propus. Sabia que enquanto me mantivesse em funções, a campanha difamatória e a manipulação de opinião continuariam, mas o Sporting merecia, e merece, esse esforço, e foi com esse espírito que trabalhei nos últimos 60 dias. Não há moços de recados, ou pretensos spin doctors, que me pudessem fazer desistir daquilo que tinha de concluir. E foi isso que fiz.
Foi, tendo por base aquilo que vos comuniquei, que hoje [ontem] mesmo apresentei a renúncia ao meu mandato de vice-presidente do Sporting.

Posto isto, as minhas palavras seguintes vão para os sócios e adeptos sportinguistas, aos quais peço que continuem a apoiar e a acreditar no nosso querido clube; às claques, que continuem a acompanhar as nossas equipas pelo país e pela Europa fora; aos meus colegas do Conselho Diretivo, peço que nunca se desviem do caminho, e que mantenham a força, a raça e a verticalidade sempre demonstradas, mesmo quando alguns moços de recados anunciavam a desgraça e a cisão entre nós; a Luís Duque, Carlos Freitas e Ricardo Sá Pinto, faço votos de que continuem o excelente trabalho e que, apesar do caminho tortuoso que às vezes percorrem, e por muita ‘berreira’ que lhes coloquem à frente, tenham sempre a força de leões que na realidade são e que se mantenham seguros das vossas convicções, o Sporting precisa de gente assim; uma palavra aos funcionários do Sporting, especialmente àqueles que comigo trabalhavam diretamente.

Foi uma honra conhecer muitos de vós e concluo também que, convosco, o espírito do leão está vivo. Foram muitas as vezes que fizemos muitas omeletas, quando nem um ovo tínhamos. Foi difícil de facto, mas, como costumávamos dizer, se não fosse difícil isto não era o Sporting. Tenho orgulho em vós, e os sportinguistas também deverão ter. Aprendi muito convosco e espero ter deixado um pouco de mim em vós. O orgulho, a força e a raça que um leão deve ter estão bem patentes em todos os que acabei de referir.

Concluindo, foram 15 meses de adrenalina pura, chorei de emoção, gritei de alegria, exultei com momentos inolvidáveis, entristeci-me com momentos em que os nossos objetivos não foram alcançados, comovi-me com demonstrações de amor a este clube que só quem as presenciou sabe o que significam. Conheci gente fantástica que respira e vive um clube fantástico, gente que saia de sua casa para acompanhar as nossas cores pela Europa só com a viagem de ida e sem meios de regressar. Esse amor incondicional, irracional e total ao nosso grande amor ficar-me-á sempre gravado no coração.

Foram 15 meses em que concretizei alguns dos meus sonhos e ajudei a concretizar os de muitos sportinguistas. Isto é servir o Sporting e não há maior honra do que essa. Apesar da forma como hoje encerro a minha passagem pelos órgãos sociais do meu grande amor, e apesar de tudo o que de desprezível e hediondo foi dito sobre mim, muitas vezes por gente sem autoridade profissional, moral ou humana para o fazer, assumo aqui que nem por um minuto me arrependo do que aqui vivi, e não me arrependo de rigorosamente nada. Afinal, o Sporting é, e será sempre, mais do que a soma de todos nós. Foi um prazer. Viva o Sporting!»

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